A Mobilização em Brasília
Em meio a um cenário político conturbado, onde as alegações de uma tentativa de golpe de Estado por parte de Jair Bolsonaro são debatidas no Supremo Tribunal Federal (STF), os aliados do ex-presidente estão se movimentando intensamente para destravar a aprovação de uma anistia na Câmara dos Deputados. Essa articulação ganhou força com a entrada do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, que, com o aval de Bolsonaro, busca consolidar apoio político e pavimentar o caminho para as eleições de 2026.
Tarcísio esteve em Brasília, onde se reuniu com diversas lideranças políticas, incluindo Arthur Lira, ex-presidente da Câmara, e Hugo Motta, atual presidente da Casa, para discutir o projeto de anistia que pode beneficiar Bolsonaro. A expectativa dentro do Partido Liberal (PL) é de que a proposta seja votada em breve, logo após o julgamento no STF. A presença de Tarcísio nas negociações é vista como crucial devido ao seu peso político e à sua ligação com o Republicanos, partido de Hugo Motta.
O Apoio Político e as Estratégias
A pressão sobre Hugo Motta aumentou após partidos do Centrão, como o União Brasil e o PP, declararem apoio formal ao texto da anistia. A federação formada por esses partidos, a União Progressista, recentemente anunciou sua saída da base do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, o que pode influenciar o cenário político. Além do PL, do Novo e do Republicanos, o projeto tem apoio de parte das bancadas do PSD e do MDB.
A articulação de Tarcísio de Freitas já mostra resultados, com líderes da oposição indicando que o apoio à anistia cresceu significativamente entre os deputados. Essa maioria ampla é vista como fundamental para a aprovação da matéria. Luciano Zucco, líder da oposição na Câmara, destacou a necessidade de pautar a anistia para mostrar que a sociedade brasileira deseja virar a página.
Desafios e Perspectivas
Apesar do crescente apoio, Hugo Motta afirmou que ainda não há decisão sobre levar o projeto de anistia ao Plenário, ressaltando que o tema continua em discussão com lideranças partidárias. A movimentação pela anistia também encontrou resistência entre aliados do governo Lula, que veem a proposta como uma interferência no STF.
Mesmo com o apelo dentro do PL para que Bolsonaro seja o candidato da direita em 2026, a aprovação da anistia pode não ser suficiente para recuperar seus direitos políticos a tempo das eleições do próximo ano. Além da aprovação na Câmara, o texto precisa passar pelo Senado e pode ser barrado no STF. Bolsonaro está inelegível até 2030 por decisão do Tribunal Superior Eleitoral, o que complica ainda mais sua situação política.
Tarcísio de Freitas como Alternativa
Com Bolsonaro inelegível, Tarcísio de Freitas desponta como uma possível alternativa para a direita nas eleições presidenciais de 2026. O governador de São Paulo é visto como um nome que pode unificar partidos de centro-direita, como o PL, PP, Republicanos, União Brasil e PSD. Embora Tarcísio tenha afirmado que pretende concorrer à reeleição ao governo paulista, seus aliados acreditam que ele tem potencial para disputar a presidência.
Os presidentes do PL e do PP, Valdemar Costa Neto e Ciro Nogueira, respectivamente, estão trabalhando para que Tarcísio seja indicado como candidato ainda neste ano. Recentemente, ele se reuniu com Bolsonaro e, segundo líderes da oposição, recebeu o aval para atuar politicamente em relação à anistia.
O Papel de Tarcísio nas Manifestações
Além de sua atuação nos bastidores políticos, Tarcísio também está envolvido em manifestações públicas em defesa da anistia e contra o ministro Alexandre de Moraes, do STF. No Sete de Setembro, ele participará de um ato na Avenida Paulista, ao lado de figuras como o pastor Silas Malafaia e o deputado Sóstenes Cavalcante, ambos aliados de Bolsonaro.
Essas manifestações são vistas como uma oportunidade para Tarcísio consolidar sua imagem como líder da direita e potencial candidato à presidência. A expectativa é que o evento reúna um grande público, semelhante ao da última manifestação em defesa de Bolsonaro.
O Senado e a Proposta Alternativa
Enquanto a Câmara dos Deputados discute a anistia, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, sinalizou que não pretende pautar um projeto que beneficie Bolsonaro. Em vez disso, Alcolumbre trabalha em um texto alternativo que beneficiaria apenas os envolvidos nos atos de 8 de janeiro de 2023, excluindo o ex-presidente.
A proposta de Alcolumbre prevê um novo cálculo de pena para os condenados, unificando os crimes de tentativa de golpe de Estado e abolição violenta do Estado Democrático de Direito. Essa medida reduziria as penas e permitiria a progressão de regime para muitos condenados, mas já enfrenta resistência entre os líderes da oposição.
Implicações Políticas e Futuro
A movimentação em torno da anistia é vista como uma disputa de poder entre partidos do Centrão. Para o cientista político Rafael Favetti, a proposta de anistia se tornou um palco de disputa, especialmente após o julgamento de Bolsonaro. O PL da anistia avança como uma demonstração de força da nova federação PP/União.
Nos bastidores, líderes do Senado admitem que a votação de uma proposta de anistia é cercada de imprevisibilidade, podendo tanto ser rejeitada quanto aprovada, dependendo do clima político do momento. Enquanto isso, Tarcísio de Freitas continua a se posicionar como uma figura central na política nacional, com potencial para influenciar o cenário eleitoral de 2026.
“A anistia precisa ser pautada. Entendemos que já está construída com os demais partidos, temos votos de plenário e não há motivo para não pautar, até para mostrar que a sociedade brasileira está querendo virar a página.” – Luciano Zucco (PL-RS)
Fonte: www.gazetadopovo.com.br